AS VINHETAS GOELDIANAS

“Repertório” Vinheta criada por Oswaldo Goeldi em xilogravura para a Revista crítica e literária Movimento Brasileiro em 1928, no Rio de Janeiro.
Julio Reis
Oswaldo Goeldi, reconhecido como o pai da gravura moderna brasileira e que influenciou toda uma geração futura de artistas gravadores, chegou definitivamente ao Brasil em 1919 após viver toda sua infância e adolescência na Suíça. Já no Rio de Janeiro, Goeldi começou a trabalhar como ilustrador de revistas e jornais, entre eles a Ilustração Brasileira e a revista Paratodos de Álvaro Moreyra. Seu primeiro contato na arte da gravação em madeira se deu em 1924 através de seu amigo Ricardo Bampi, gravador e escultor. É Bampi quem lhe ensina os primeiros passos na xilogravura, arte onde Goeldi definitivamente iria se encontrar e se identificar por toda a sua vida. Já atuando como xilógrafo, passa a trabalhar como ilustrador da Revista O Malho e também de livros como “Canaã” de Graça Aranha, a primeira obra moderna da literatura brasileira.

Nota de agradecimento dos editores para Oswaldo Goeldi pelos “desenhos em madeira” publicados no caderno Repertório da Revista Movimento Brasil, de 1928.
Goeldi já chegou ao Brasil com suas aspirações artísticas definidas, profundamente influenciado pelo artista tcheco Alfredo Kubin com quem trocou longa correspondência tornando-se amigos. Seus bicos de pena do início de carreira, carregados de uma forte tensão e emoção em meio a uma atmosfera com sombras, brumas e personagens anônimos serão substituídos pela xilogravura, onde Goeldi mergulha ainda mais no expressionismo. Sua temática abordará quase que exclusivamente a representação da solidão humana, animais sem rumo, o silêncio das ruas, o abandono como temática recorrente em sua obra.
Mas sua atuação artística não se restringiu apenas à ilustração artística para artigos de jornais e revistas. Goeldi também produziu vinhetas artísticas para a publicação Movimento Brasileiro, uma revista crítica e de informação fundada em outubro de 1928 primeiramente com o nome Movimento e dirigida por Renato Almeida. Essas vinhetas tratavam-se de desenhos decorativos para separar seções ou capítulos de jornais e publicações gráficas como as letras capitulares que davam início aos capítulos dos incunábulos. E até mesmo na criação destas pequenas xilogravuras o seu traço expressionista é inconfundível e estas seriam imagens recorrentes nos trabalhos futuros. Aqui foram reproduzidas todas as vinhetas feitas para o caderno Repertório da Revista Movimento Brasileiro assim como o nome das seções correspondentes às xilogravuras feitas por Goeldi.

As vinhetas artísticas de Goeldi só aparecerão a partir do número 3 da revista, publicado em dezembro de 1928. Os números anteriores não tinham essa preocupação com a programação visual tornando-a empobrecida visualmente e menos sedutora.
Interessante ressaltar a promoção que a revista Movimento Brasileiro fez do artista na edição 13 do ano de 1930, quando há uma cobertura para o lançamento de seu álbum com 10 xilogravuras: “Oswaldo Goeldi acaba de publicar, em edição limitada, cuidadosamente impressa nas oficinas de Paulo, Pongetti & Cº, um álbum dessas gravuras em madeira.” E o redator da matéria complementa o texto exaltando o trabalho de Goeldi através de sua participação na própria revista em que atua: “São do gênero dessas gravuras, os sub-titulos e titulo geral do nosso Repertorio, feitos por Oswaldo Goeldi.”

“Pelos estados”, xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção do noticiário nacional da Revista Movimento Brasileiro em 1928.

“Homens e coisas estrangeiras”, xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção noticiário internacional da Revista Movimento Brasileiro em 1928.

“Vida Internacional”, xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção que tratava de personalidades históricas do mundo da Revista Movimento Brasileiro em 1928.

“Artes”, xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção sobre Artes da Revista Movimento Brasileiro em 1928.
A seguir a revista reproduz as palavras do poeta Manoel Bandeira: “que apresenta o livro em palavras de entusiasmo, das quaes transcrevemos as finaes: “Os verdadeiros mestres de Goeldi foram aquelles artistas cujas quadros ele via na Galeria Moos; foi sobretudo a arte visionaria de Kubin, o theco fantástico, o genial ilustrador de Poe, de Gerard de Nerval, de Barbey d´Aurevilly, do Livro de Daniel.” E continua Bandeira: “Em 1920 voltou Goeldi ao Brasil, onde nunca realizou nenhuma exposição. Todavia tem trabalhado continuamente e só ultimamente a sua obra começou a ser conhecida. Tal o artista que apresenta neste álbum alguns exemplares de gravura em madeira, pelos quaes se pode apreciar a sua força de intuição e temperamento.”

“Música”, xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção sobre música da Revista Movimento Brasileiro em 1928.

“Idéias e opiniões” , xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção “Idéias e opiniões” da Revista Movimento Brasileiro em 1928.

“Livros e autores” , xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção “Livros e autores” da Revista Brasileiro em 1928.

“Notas literárias” , xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção “Notas Literárias” da Revista Movimento Brasileiro em 1928.

“Sciencia” , xilogravura de Oswaldo Goeldi publicada como vinheta na seção “Sciencia” da Revista Movimento Brasileiro em 1928.
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